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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O QUE O BAÚ NÃO CONTOU - crônica de José Wilson Malheiros

A imprensa deu intensa e merecida cobertura ao lançamento do “Meu Baú Mocorongo”.

Trabalho pertinaz, minucioso, meu pai a ele se dedicou de corpo, alma e coração. Com essa obra de crônica social, memórias, preservação de patrimônio e história, Izoca chegou ao patamar de Câmara Cascudo e Gilberto Freyre, intelectuais nacionalmente respeitáveis, entre outros.

Fechando os olhos volto no tempo e vejo meu velho dedilhando a Olivetti Lettera, máquina de escrever com a qual ele trabalhou no Banco do Brasil e que levou para casa, de presente, ao se aposentar, com dedicatória do Gerente e dos funcionários. Posso dizer, com indisfarçável orgulho, que cheguei a trabalhar no banco com ele.

Perto da escrivaninha, uma janela aberta para o quintal de casa. Era aí que vinham pousar, todo dia, dois bem-te-vis para ouvir o maestro tocar piano, compor e fabricar o Baú.

O telefone não parava um instante sequer. Eram amigos para conversar, gente pedindo orientação sobre assuntos variados, ligações de artistas do país e até do exterior, enfim, poderíamos dizer que de uns tempos para cá o ambiente de trabalho do meu pai transformou-se, também, num autêntico consultório.

Mas, eu dizia no início que o Baú não contou. Há vários “causos” que ele ou esqueceu ou achou por bem não publicar.

Vamos a um deles, aliás, bem anedótico, que ele me narrou numa das manhãs em que seguíamos juntos para o trabalho.

Na década de mil novecentos e quarenta o Euterpe Jazz estava em plena atividade e tinha como palco maior o Centro Recreativo, em Santarém. Eram festas inesquecíveis, onde pontificava a elegância e o bom gosto.

Numa ocasião estava presente um americano que não falava português e ficou empolgado quando a orquestra tocava (era moda na época) além dos sambas e maxixes, fox-trot, one-step e boogie-woogie (lê-se: bug-ug).

Terminado o baile, o gringo, cheio de cerveja, queria mais. Subiu no palco e começou a fazer sinais que pretendia continuar dançando. Disseram que não.

Izoca dizia:

No, no, music stop!

Ele gritava e insistia:

Me dance, me dance!!!... fox-trot, boogie-woogie!...

Então, o americano teve uma idéia salvadora. Olhou para os músicos e perguntou:

- Money? Money? (em todos os lugares do mundo sabe-se que isso significa “dinheiro”).

(Papai nunca cobrou para tocar, mas sabia que os músicos eram pobres).

Perílio Cardoso, que tocava contrabaixo, arregalou os olhos, entusiasmado. Os músicos começaram a rir:

-Yes! Money, money!...

Então o Mister começou fazer ofertas, com um punhado de dólares na mão e indicando com os dedos:

-One?

-No! (os músicos respondiam em coro)

-Two?

-No!

-Three?

-No!

-Four, five, six?

-No, no, no!

-SEVEN?

- Perílio saltou, pegou os sete dólares da mão do americano e falou:

-SERVE!

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