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quinta-feira, 11 de março de 2010

PREFIRO VENTRECHA (crônica de José Wilson Malheiros)

Tenho um amigo francês e fui convidado por ele para comer um patê de foie gras, antepasto para bons queijos e vinhos.

Antes de sair de casa, fui ao dicionário e vi que o tal patê é “pasta de fígado de ganso”. Lá chegando me serviram também um fondue (esta não dá pra explicar muito bem. Só vendo e comendo).

Como bom caboclo interiorano fui chegando e ficando com a pulga atrás da orelha, olhando “meio de revestré” para aqueles quitutes da França, uma das maiores escolas de gastronomia do planeta. Querem saber? O tal fígado de ganso não é lá essas coisas, não, ele que me perdoe.

No caminho de volta pra casa, coloquei no som do carro aquela música do Zeca Pagodinho “... você sabe o que é caviar?.....” que todo mundo conhece e tirei a forra. Sinceramente, prefiro uma boa ventrecha de pirarucu, um bom acari assado na brasa, um patarrão no tucupi, uma cuia de tacacá, essas “caboquices” tão gostosas e que não têm igual no mundo.

Certa vez fui com minha mulher e uma prima, em São Paulo, numa pizzaria chiquérrima. Tinha até piano de cauda e uma cantora gordona, cantando em italiano. Os garçons olhavam pra gente com aquele ar de “caboco metido a besta”. Então eu me lembrei da simplicidade do Bar Mascote, em Santarém... ah!... aquela vista espetacular e única no mundo para o banzeiro do Tapajós, confesso que me senti meio saudoso. E a mulher a cantar trechos de ópera e o pianista quase desmunhecando no piano, de tão prosa. Comecei a desconfiar do andar requebrado do garçon que nos servia. Pois é. Depois de muitos trejeitos ele nos trouxe o que, segundo o cardápio, era a melhor pizza e o vinho da maior qualidade do restaurante.

Nossa mesa estava bem perto da cantora, encostada na parede. No auge do jantar, eis que vem subindo bem perto da minha prima uma enorme barata cascuda, tão grande que parecia até meio loura. Juro. Foi o fim da picada. As mulheres deram gritos que pareciam de filme de terror. A cantora e o pianista saíram correndo. Foi um Deus nos acuda. Tenho a impressão até que alguns aproveitaram para não pagar e foram embora.

Naquela emergência, nem pensei noutra coisa. Tirei o sapato e... “plaft...” esmaguei a baratona na parede, que ficou parecendo uma “pasta”. O garçon chegou perto de mim, e me aplicou o maior olhar de desprezo do mundo. Como é que um caboco com sotaque nortista tinha tido a coragem de profanar, com uma sapatada, um dos maiores templos da frescurite gastronômica de S. Paulo? Aquilo era demais para o maitre. O senhor não precisa pagar, disse ele. Abri um sorriso, pois a conta estava tremendamente inflacionada, pedi mais uma taça de vinho, a saideira, e fiquei até mais tarde, aproveitando o presente “barato” e a música que começou a tocar de novo. As duas que estavam comigo pegaram um táxi e foram embora. Aí eu me lembrei de que nada há de novo, no mundo. Se no Mascote os ratos passeavam pela praia e às vezes por debaixo de nossas pernas, sem que ninguém fizesse escândalo, na paulicéia o reino é das baratas. Uma delas, cascuda, imensa, alourada foi minha amiga, pois deu a vida para me propiciar um banquete de graça.

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