Roberto D'Ávila e Joaquim Barbosa, Presidente do STF.
Em uma crítica direta aos acordos políticos e articulações, Barbosa disse que o Brasil é o País “dos conchavos, do tapinha nas costas". O presidente do STF coloca a Nação entre as 10 maiores democracias do mundo, mas destaca: "se faz muita brincadeira no Brasil no âmbito do Estado, dos três poderes. Muitas decisões são tomadas superficialmente. Não se pensa nas consequências".
Barbosa também afirmou que o Brasil está adotando medidas erradas para combater a corrupção. "Não quero justificar corrupção tupiniquim, mas ela está presente em todos os países, em maior ou menor grau. Ainda não encontramos os mecanismos, a forma correta e eficaz de combatê-la. Talvez estejamos adotando o método errado".
Abaixo, trechos da entrevista:
Corrupção
Barbosa diz que o Brasil ainda não encontrou a forma correta de combater a corrupção e defende medidas mais drásticas. “Tenho minhas dúvidas se esse método puramente repressivo é o mais eficaz para combater a corrupção. Talvez medidas que doam no bolso, na carreira, no futuro dessas pessoas que praticam corrupção sejam mais eficazes”.
Barbosa diz que o Brasil ainda não encontrou a forma correta de combater a corrupção e defende medidas mais drásticas. “Tenho minhas dúvidas se esse método puramente repressivo é o mais eficaz para combater a corrupção. Talvez medidas que doam no bolso, na carreira, no futuro dessas pessoas que praticam corrupção sejam mais eficazes”.
Infância rígida
Joaquim Barbosa nasceu em uma família de oito irmãos, na cidade de
Paracatu, no interior de Minas. Teve uma educação rígida. Aos 16 anos,
saiu de Minas com destino a Brasília, contra a vontade do pai, que
gostaria que o filho fosse para Belo Horizonte, como era a tradição.
Para os padrões atuais, conta que o pai era rígido até demais. "Eu
pertenço a uma geração que levava surra dos pais. Já na geração do meu
filho isso é inadmissível”.
Adolescência e faculdade
Rebelde e extremamente tímido. Assim Joaquim Barbosa se descreve na
adolescência. Apesar de garantir que ainda não se livrou totalmente
dessa timidez, diz que boa parte dela perdeu por volta dos 21, 22 anos,
quando teve sua primeira experiência fora do país. “Voltei completamente
mudado, mais alegre, mais confiante. Quanto mais jovem você conhece o
novo, melhor”.
Barbosa diz que nunca teve dúvidas quanto a faculdade cursaria. O
Direito sempre esteve em seus planos. “Por volta de 14 anos eu já sabia.
Até em função do meu desempenho escolar. Gostava mais de humanas, lia
muito e gostava muito de história, geografia, línguas".
A faculdade, Barbosa cursou durante o regime militar. “O que marcou
muito essa época foi a invasão às universidades. Assistimos as aulas
durante um bom tempo com policiais na porta das salas. Vi os absurdos,
alunos sendo presos na saída da universidade, colegas que trabalhavam na
imprensa do Senado sendo presos na madrugada”.
Fama de durão
A transmissão do julgamento do mensalão para todo Brasil mostrou um
Joaquim Barbosa duro, imagem que ele não nega, mas explica. “Preciso ser
duro. O Brasil é o país dos conchavos, do tapinha nas costas, o país
onde tudo se resolve na base da amizade. Eu não suporto nada disso. Sou
duro para mostrar que isso não faz o menor sentido numa grande
democracia como é a nossa. Isso aqui não é lugar para brincadeiras”. E
nega que fique bravo quando é vencido: “Nada disso!”
Diz que, às vezes, se arrepende das palavras mais duras, mas novamente
tem uma explicação. “Não faço nada em caráter pessoal. Mas eu não
suporto o sujeito ficar escolhendo palavras gentis para fazer algo
inaceitável. Longe de mim esse tipo de comportamento. Isso é fonte de
boa parte dos momentos de irritação que eu tenho”, explica. Nesse
momento o entrevistador Roberto D'Ávila lembra que os ministros não vão
gostar nada dessa declaração. Ele dá os ombros e diz: “Liberdade de
expressão”.
O mensalão
“Foi um processo que trouxe um desgaste muito grande. Uma carga
política exagerada, poderosa. Estou há 11 anos no STF e só nesse
processo foram quase sete. Isso consumiu boa parte das minhas energias
aqui no Supremo".
Mas será que Joaquim Barbosa achou as penas aplicadas aos réus muito
pesadas? “Pelo contrário!”, diz ele. “Eu examino as penas que foram
aplicadas no mensalão com as penas que são aplicadas e chanceladas pelo
STF relativas às pessoas comum. E convido a todos que criticam o Supremo
por terem aplicado essas penas supostamente pesadas a fazer esse tipo
de comparação. Vão verificar que o Supremo chancela em habeas corpus
coisas muito mais pesadas”.
Música
Barbosa se mostra eclético quanto ao gosto musical. Diz que ouve de
tudo. “Gosto muito de música popular, gosto de música pop, já gostei
muito de rock, hoje gosto bem menos. O que mais escuto é música clássica
e jazz". Conta que a iniciação músical se deu no rádio. "Escutava um
pouco de tudo. Minha fase de adolescência era a fase da jovem guarda,
logo depois veio o rock. Lamento muito não ter tempo de ir aos grandes
concertos”.
Racismo
O racismo sempre esteve presente na vida de Barbosa. “Mesmo criança e
mesmo ministro do STF”, afirma, revelando que propôs uma ação por
racismo contra um jornalista brasileiro. E faz suspense: “Vocês tomarão
conhecimento nos próximos dias”.
Diz que jamais permitiu que utilizassem a sua presença como
‘esculpatória’ para o racismo brasileiro. “Lula me chamou algumas vezes
para viajar com ele à África. Recusei porque não era tradição da casa e
também porque percebi que aquilo era estratégia de marketing para os
países africanos”, revela.
Faz questão de frisar que não entrou na vida pública com a missão de
combater o racismo. "Eu sempre achei que minha presença aqui
contribuiria para desracializar o país. Eu espero que quando eu sair
daqui, os presidentes da República saibam escolher bem a pessoa e
escolham negros com naturalidade, sem estardalhaço. Que não tentem levar
a pessoa escolhida para a África para esconder a realidade triste de
que não temos representantes negros no país”, conclui.
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