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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Vale a pena ler: A COMPLICADA 'PARTILHA'


Vincent Van Gogh
Por Tais Luso de Carvalho, em seu blog:
Não há dúvida que ao recebermos a notícia do falecimento de alguém ficamos consternados, lamentamos imensamente a perda. E uma dor mais intensa quando é familiar, a ficha custa a cair até nos darmos conta que essa separação é para sempre. Sem retorno.

A dor é enorme e a recuperação é muito lenta. Porém, certas atitudes, que seguem ao sepultamento, surpreendem, e servem para nos dar a dimensão exata dos mais diversos comportamentos.

É muito comum que a princípio, se pense na pobre viúva (o) e nos filhos como mais um dos tantos casos que passam pela nossa vida.

Tudo começa mais ou menos igual; o ser humano é único. Após alguns dias do falecimento do ente querido, começam as doações das roupas e dos seus pertences, distribuídos entre os familiares, empregados e instituições. Tudo com muito pesar e lágrimas. Fotos são inevitáveis: abre-se o baú e ali estão as fotos do nascimento, namoros, noivado, das férias inesquecíveis, das bodas de prata, de ouro e mil recordações. Revive-se, nesse momento, situações há muito esquecidas. E lágrimas brotam oriundas de um estado de consternação.

O primeiro mês é um tormento, podemos imaginar a pessoa falecida em todos os cantos; sua poltrona predileta, seu terço, seu livro de cabeceira, sua xícara. Até seu perfume. Cada coisa é uma lágrima escorrida, tentando ser escondida. E antigos defeitos viram virtudes. Chora-se ao olhar o computador do falecido, suas ideias ali postadas. Sentimos ao ouvir suas músicas, ver seu celular, olhar seus chinelos… Seus pertences tornam-se algo penoso de suportar. Tudo tem uma conotação afetiva e tudo permanece onde sempre esteve.

Passado algum tempo, as coisas começam a trocar de lugar: a poltrona voa, a cama é substituída, os livros vão para o lugar certo, o chinelo vai pra empregada e a sala toma outra aparência: tudo trocado de lugar com a intenção de renovação, pois é preciso dar prosseguimento à vida. Ninguém quer levar, por mais tempo, uma lembrança triste e constante. É preciso amenizar o sofrimento. E todos começam a falar do magnífico lugar que o falecido (a) deve estar. É um conforto. Muitas vezes, com essa atitude, se procura o perdão por certos entraves causados a quem se foi. A maioria até que consegue ajeitar as feridas e soterrar as culpas.

Porém, também existe uma infinita e absoluta dor, que teima em ficar. Sim, existe, acompanhada de depressão e de difícil recomeço. São seres que se fundiram num só espírito, num só querer, numa só vida. Creio que esse amor é insubstituível, e foi perfeito.

Pois bem: passada a dor inicial, entra uma outra realidade: a Partilha, divisão dos bens! É neste ponto que o ser humano se mostra muito. É aí que começa a dureza da nova vida: as leis e os direitos: o meu e o teu; o fifty-fifty fiscalizado e um advogado mediando os interesses das partes. Começa o que antes nem se cogitava: as brigas dos herdeiros pelas coisinhas. Brigas por palmos de terra, desentendimentos por porcarias.

E é nesse ponto que acontece a nossa segunda perda: sepultam-se sentimentos, o respeito, a amizade, a dignidade, o parentesco e a justiça. E tudo em nome de latarias: de trecos e cacos. Começa a mesquinharia. Acaba a harmonia e começa a desconfiança entre os herdeiros. Muitos deles são verdadeiros horrores. A harmonia vai pro brejo. Para o fosso.

A morte física parece ser um engodo, uma provação pra ver até que ponto pode chegar o ser humano. Sordidez é algo que desqualifica, que depõe, que desmerece. Mas é próprio da nossa espécie. A paz é essencial, e bendito seja aquele que consegue ver que o importante é ter apenas o necessário. O supérfluo é dispensável, e em muitos casos só serve para magoar, pra separar, pra destruir. Partilhar deveria ser um ato civilizado, feito em paz; mas é um confronto penoso. E muitas vezes através da Justiça dos homens.

Não sei onde fica o paraíso, mas logicamente não é um lugar físico. Paraíso é estar em paz e sem conflitos, um estado de espírito.

Até hoje não entendo como a morte não consegue deixar seu recado; é apenas percebida quando chega, quando busca a vida. Depois, é esquecida, e tudo se repete, como se ela não fosse voltar… E assim, ficamos vivendo o eterno ciclo da insensatez.

Um comentário:

  1. Muito bom. Jamais estaremos prontos para A PERDA DE UM ENTE QUERIDO. É doloroso mas acredito que se deva pensar em doar o que ficou, rezar muito para que vá em Paz para onde Deus assim o determinou. A saudade é grande mas é a única certeza que temos na vida: todos morreremos, cedo ou tarde, no dia já determinado quando nascemos, é o que acredito. Sucesso para Tais de carvalho em seu blog e em sua vida. Regina Silva, santarena em floripa.

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