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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Editorial - Folha de SP: Onde o Papa não é pop

A imagem da América Latina como uma fortaleza católica, quase intransponível para outros credos, vem se desfazendo há pelo menos duas décadas. Trata-se de um processo de distanciamento dos fiéis em relação à doutrina, cuja consequência mais vistosa foi a ascensão do culto evangélico.

A região se conservava, entretanto, como porto seguro para visitas de papas —mesmo aqueles que despertavam menos empatia, como Bento 16, tinham, no mais das vezes, uma boa acolhida.

Afigura-se como preocupante para a Igreja, portanto, a recepção pouco calorosa de parte da população chilena a Francisco, que detém índices de popularidade semelhantes ao de João Paulo 2º (1920-2005). Em quase cinco anos de papado, ele não testemunhara ambiente de tamanha hostilidade em um país de maioria católica.

Desde sexta (12), houve ataques com bombas caseiras contra ao menos nove igrejas —algumas das ações foram atribuídas a um grupo de esquerda que atuava durante a ditadura militar (1973-1990).

Em razão disso, o governo reforçou a segurança nos locais por onde o pontífice passará. Os gastos com a visita, aliás, também se tornaram alvo de protestos. Contesta-se a destinação de recursos de um Estado não confessional à viagem de um líder religioso —algo que praticamente não se questiona nos países vizinhos.

Segundo pesquisa do instituto Latinobarômetro, o Chile é a nação latino-americana onde Francisco tem a pior avaliação, com 5,3, ante a média regional de 6,8. Lá se registrou também a mais baixa confiança no Vaticano, na comparação com o índice médio dos vizinhos (36% e 65%, respectivamente).

Existem, naquele país, algumas particularidades para compreender tal rejeição. Em 2010, um escândalo envolvendo um padre popular —acusado de abusar de fiéis, inclusive de menores— gerou revolta entre os católicos. A Santa Sé o afastou do sacerdócio, mas até hoje se cobram punições a bispos que teriam acobertado o caso.

Pesa contra o papa, ainda, o fato de ter mostrado simpatia à causa da Bolívia de ter acesso ao mar, perdido em uma guerra com o Chile no século 19. A reivindicação é até hoje motivo de atrito diplomático entre os países.

Em que pese certa singularidade, o exemplo chileno expõe uma crise de identidade do catolicismo na região a ponto de não poupar mais nem mesmo aquele que tem simbolizado a esperança de renovação na relação com seu rebanho.

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